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CLAIRE - PARTE FINAL


 
Um ano depois...
 
- O seu corpo colado ao meu, a sua pele roçando na minha, seus beijos, seus gemidos... Ah, como é bom saborear você! Na cama, deitada, olho para o lado para ver seus olhos sorrindo e me dizendo outra vez... Vem! Mas... É apenas mais um delírio! Uma escolha e um coração dilacerado. E agora, só me resta... Sonhar!
Ela lia um trecho do seu segundo livro e dessa vez, ela não me viu chegar. Assim que ela terminou de ler, as mulheres estavam se derramando em lágrimas. Ela pegou o microfone e anunciou que daria autógrafos na sala ao lado. Eu me aproximei e ela ficou surpresa.
- Claire, é muito bom te ver!
- É bom te ver também, Analice.
O seu sorriso ainda tinha aquele brilho luminoso, capaz de aquecer corações. Ela me abraçou forte.
- Você continua... Normal?
- Sim! E não pretendo mudar. Analice, como você está?
- Sentindo muito a sua falta.
- Vai passar! Vejo que você se decidiu pelo título do livro.
- Agradeço por você ter permitido eu usar esse título.
- Com licença. Analice, estão te chamando.
- Obrigada, eu já vou. Claire...
- Tudo bem! Vai lá agradar suas fãs.
- Você vai me esperar?
- Claro! Você vai autografar o meu livro.
- Eu já volto.
Depois que ela saiu, eu me lembrei do nosso último encontro, um ano atrás.
 
- Analice, você pode vir aqui em casa hoje à noite?
- Sim. A que horas?
Preparei o jantar e aguardava a chegada de Analice. Eu estava calma, pois sabia que eu tinha feito a escolha certa. Quando ela chegou, sugeri que jantássemos antes da nossa conversa. Bebemos vinho e falamos sobre coisas rotineiras. Ela me ajudou a tirar a mesa e lavou a louça. Depois, fomos para a sala.
- Você sabe porque eu te chamei aqui, não sabe?
- Sei. Você já fez a sua escolha.
- Sim. Analice, eu não vou ficar de rodeios. Pelo que te conheço, você vai preferir que eu vá direto ao assunto.
- Estou ouvindo.
- “Claire, só o amor é capaz de iluminar as trevas!”.
Logo após ouvir o que eu disse, ela começou a chorar.
- Esse foi o autógrafo que você me deu no seu primeiro livro, “Amor e Trevas”. Pensei muito. Nossa, como eu pensei! E eu compreendi que o amor que eu sinto por Juliette é maior do que qualquer desejo meu de ter uma vida que eu chamo de normal. Porque o normal é amar, ser amada e espalhar por cada canto desse mundo, somente amor.
- E o que eu faço com esse amor que sinto por você?
- Eu não sei responder a essa pergunta. Mas eu sei que um dia você vai encontrar alguém que mereça esse amor.
- Você vai deixar que ela transforme você em vampira?
- Enquanto eu puder, serei humana. Por mim e por meus filhos.
- Claire...
Ela não precisava dizer nada, porque eu conseguia sentir a sua dor. E a única coisa que eu poderia fazer era apenas... Confortá-la.

 

 
Minhas lembranças foram interrompidas por Analice.
- No outro livro você seguiu o que eu escrevi ao pé da letra. Dessa vez, acho melhor eu escrever algo que me favoreça.
“Ter esperança é acreditar que os sonhos podem ser realizados”.
Eu a abracei e dei um beijo em seu rosto. Embora eu não a tenha escolhido, eu queria que ela sentisse o quanto era importante pra mim. Não sabia se um dia nos veríamos novamente e eu desejava apenas uma coisa: que Analice fosse feliz.
Saí da livraria, fui para o estacionamento e entrei no carro.
- Deu tudo certo?
- Sim. Juliette, obrigada por concordar que eu fizesse isso.
- Não precisa me agradecer. Sei que era importante pra você.
Pegamos a estrada para Teresópolis e no caminho, eu me lembrei de quando eu contei a Juliette sobre minha decisão.
 
- Boa noite, Antoine.
- Madame Claire? Pardon, eu não esperava pela senhora. Madame Juliette não me avisou que viria.
- Ela também não sabia. Onde ela está?
- No quarto.
Subi a escada e quando entrei no quarto, Juliette estava olhando pela janela. Ela não se virou pra mim.
- Se está aqui, suponho que já tenha tomado uma decisão.
- Sim.
Ela continuou olhando pela janela e eu a abracei por trás.
- Sou sua e sempre serei!
- Claire...
Ela estava chorando e me abraçava forte, como se quisesse não me deixar escapar.
- Eu pensei que tinha perdido você. A escritora já sabe?
- Sim. Eu conversei com ela.
- Ela foi valente. Ninguém teria coragem de me enfrentar como ela fez. Ela provou o quanto te ama, Claire. Tenho que admitir que ela é uma mulher admirável.
- Ela é. Mas é você quem eu amo.
- Eu te amo tanto, Claire!

 

 
Despertei das minhas lembranças quando chegamos à casa de meus pais. Meus filhos e toda a família estava reunida em volta da mesa.
- Chegaram na hora! A comida está quentinha!
Minha mãe estava feliz com nossa presença. E eu também. Não nos víamos há um ano, desde que nos mudamos para a França.
Depois de comunicar à Juliette que eu ficaria com ela, concordei em nos mudarmos para a sua bucólica cidade natal, que ela preservou como um pequeno vilarejo, onde, mesmo no verão, raramente se via a luz do sol.
A tarefa mais difícil não foi comunicar às pessoas sobre a minha mudança, mas aos meus filhos e ao pai deles. Porém, ao contrário do que eu imaginava, tanto Carlos como as crianças, ficaram entusiasmados.
- Claire, por mim, não há problema algum em você morar na França. Eu tinha desistido de morar em Londres porque não queria ficar longe dos meus filhos, mas, agora, com essa notícia, tudo muda. Se Matheus e Clarice preferirem ficar com você, está tudo bem pra mim. Encontraremos uma maneira para que eles possam ficar comigo também.
Eu sabia que, convivendo com Juliette, não seria nada fácil esconder o fato de ela ser uma vampira. Entretanto, o alívio que eu estava sentindo superava qualquer receio que eu pudesse ter. Minha única preocupação era o bem-estar dos meus filhos e se eles ficaram contentes em morar comigo na França, nada mais importava.
 
Muitas coisas aconteceram até eu conseguir chegar a esse momento. E eu estava muito feliz.
Após o jantar, meus sobrinhos queriam saber como era morar na França.
- Vocês estão morando perto da “Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts”. Já foram lá?
Nicolas era fissurado por “Harry Potter”.
- Ainda não. Iremos quando você puder ir. Combinado?
- Yes! Valeu, tia Claire!
- Filha, venha comigo.
Acompanhei minha mãe ao seu quarto.
- Aconteceu alguma coisa?
- Não. Percebi que meus netos estão muito felizes em morar na França. Mas e você? Está feliz também?
- Eu estou, mãe. Muito feliz!
- É só o que importa pra mim.
Ela me abraçou forte, como se eu ainda fosse uma criança. E isso era muito bom.
Quando chegamos à Teresópolis, soube que Álvaro estava viajando. Eu queria vê-lo antes de voltar para França, então, pedi a Juliette que remarcasse a nossa viagem. Quando ele voltou, fomos encontra-lo no pub.
- Oi, meu amigo!
- Claire! Que saudade! Quando você chegou?
- Há uma semana e já era para eu ter ido embora. Mas, eu queria muito te ver.
Uma mulher apareceu e deu um beijo em Álvaro. Na boca!
- Como vai, Claire?
- Miriam?! Você e Álvaro...
- Sim, Claire! Estamos juntos há pouco mais de um ano. Foi amor quase à primeira vista. Não é, meu leãozinho?
Eles estavam... Rugindo?!
- Não esperava por isso, mas estou feliz por vocês.
- Confesso que foi muito difícil fazer Álvaro tirar você da cabeça, Claire. Ah, mas eu adoro um desafio! Juliette, minha deusa!
Miriam deu um beijo na boca de Juliette.
- Miriam, por favor.
- Ah, relaxa, Juliette! Só quis lembrar dos velhos tempos. Falando em velhos tempos, nós quatro poderíamos nos divertir um pouquinho. O que acham?
- Não!
Juliette e eu respondemos ao mesmo tempo.
- Ah, por favor, meninas! Eu só quero agradar meu leãozinho! Depois de tantos anos amando e desejando a Claire, ele ficaria tão feliz por poder tê-la em seus braços, finalmente! Sexualmente, claro! Porque agora sou eu quem ele ama! Não ama, leãozinho?
- Amo muito, minha tentação!
- Claire, imagine! Três vampiros sedutores e insaciáveis te possuindo, te deixando louca e te dando o maior prazer que você jamais sonhou ter em toda a sua vida. Imaginou?
- Imaginei. E a resposta continua sendo não.
- E você continua sendo uma estraga prazeres!
Era bom saber que Álvaro havia encontrado alguém que o amava. Ele merecia ser feliz e eu estava feliz por ele.
Despedidas são sempre muito difíceis. As lágrimas expressavam a certeza de que a saudade seria inevitável. Percebendo isso, Juliette convidou a todos para passarem as festas de fim de ano conosco. Isso abrandou nossos corações.
Meus filhos aprenderam rapidamente o idioma e fizeram novas amizades. Eles se adaptaram muito bem à nova vida. Matheus até começou a namorar uma garota do vilarejo que estudava na mesma escola que ele. Às vezes, Matheus e ela estudavam no quarto dele e em uma dessas vezes, quando fui levar um lanche, eu ouvi uma conversa que me deixou assustada. Falavam sobre a existência de vampiros. Ela, com veemência. Mas ele dizia ser uma lenda. E eu esperava que ele continuasse pensando assim.
A cidade onde morávamos ficava a 150 quilômetros da capital. Juliette iria participar de um concerto no teatro de Paris, então, viajamos pra lá. Matheus e Clarice ficaram com Antoine em casa.
No concerto, encontramos Renan, Danton, Philippe, Thierry, Mariette, Sophie e Izabele. Eles haviam voltado para a França logo após a morte de Nicole e, desde então, não nos vimos mais.
Quando o concerto acabou, fomos jantar e depois, eles nos levaram a uma boate. A boate era deles e o modelo tinha sido copiado de Marcus Eliezer, do Rio.
- Achamos o máximo a ideia de Marcus e estamos fazendo muito sucesso.
Uma garota que parecia não ter mais de 20 anos, se aproximou de Juliette, se insinuou sensualmente e lhe ofereceu o pescoço.
- Vem se divertir comigo, sou toda sua!
Juliette ficou tentada, mas quando olhou pra mim...
- Obrigada, querida! Eu já tenho alguém para me divertir.
Então, Juliette me mordeu como sempre fazia. Sem me machucar nem me transformar. A cúpula vampiresca ficou surpresa e extasiada. A noite foi... Excitante!
Ao nos despedirmos da cúpula, combinamos um jantar em nossa casa para daqui a duas semanas, quando meus filhos estivessem em Londres, com o pai.
Na noite seguinte ao concerto, já em casa, depois do jantar, Juliette tocou “Clair de Lune”. Estava muito frio, mas o céu estava estrelado e a lua estava linda!
- Claire, quero te levar a um lugar.
Ela pegou um cobertor, me levou a um campo gramado que fazia parte da propriedade e nos deitamos.
- Há muito tempo eu queria te trazer aqui, mas eu estava tentando fazer uma coisa antes. Lembra quando eu entrei na sua cabeça e descobrimos que Nicole havia controlado a sua mente?
- Sim. Renan te ensinou isso.
- Exato. Vou te mostrar uma coisa.
Os olhos dela ficaram vermelhos e eu comecei a ver imagens que, a princípio, me deixaram confusa. Mas depois, eu entendi.
- Como você fez isso?
- Eu descobri que, além de entrar na cabeça das pessoas, eu também posso fazer com que elas entrem na minha. Você viu as minhas memórias, Claire.
- É incrível! Juliette... Jeanine, eu te amo!
- Eu te amo, Desirèe! Vou amar para sempre!
 
As estrelas e a lua invadiam nosso quarto, enquanto nossos corpos vibravam em uma sintonia perfeita. Eu não acreditava em como pude ter tantas dúvidas. Afinal, se não existe luz no amor, eu não sei onde mais pode existir.
- Eu te amo, Juliette!
- Eu te amo, Claire!

 

 
Era uma tarde chuvosa e, ao chegar da escola com as crianças, eu não entendi porque a cúpula vampiresca estava em casa, já que o jantar seria na semana seguinte. Não gostei do olhar de Juliette, então, pedi para que as crianças fossem para seus quartos e falei que Antoine levaria o almoço deles.
- Claire, aconteceu uma coisa...
- O que? Fala logo, Juliette!
 
Em algum lugar, uma mulher e um homem conversavam.
- Mademoiselle deseja um quarto?
- Sim.
- Qual é o seu nome?
- Kauana.
 
FIM


 
Esta é uma história de ficção. Quaisquer semelhanças com nomes e acontecimentos terá sido mera coincidência.
Rose Madeo
Enviado por Rose Madeo em 21/10/2020
Alterado em 21/10/2020
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